São bem poucas as regras que sustentam todo o treinamento espiritual.
O perdão é uma delas. Não se trata de um luxo, mas de uma necessidade.
Nós sabemos muito bem disso.
Então, por que é tão difícil abrir mão de todos esses preconceitos?
Perdoar a todas as pessoas? Quer dizer, afinal de contas, meu Deus, que eu vou perdoar essas dez, mas aquela lá — você sabe, eu estou com a razão. Você realmente quer que eu perdoe a mim mesmo inteiramente? Aceitar a graça simplesmente, sem achar que tenho de fazer algo para merecê-la? Apenas deixar correr o barco e aceitar as coisas como são?
Sim, sim e sim!
As pessoas que não foram perdoadas por nós estão vivendo conosco tão intimamente quanto a nossa respiração.
Além disso, estamos compartilhando essa encarnação com elas e vamos carrega-las conosco para as encarnações futuras!
Um mestre me disse certa vez em Espírito: “O fato de você não gostar de outra pessoa nada revela sobre ela. Isso apenas indica as fronteiras da sua compreensão.”
Depois de anos de aconselhamento, compreendi como o perdão é imperioso e instruí o meu subconsciente para que toda e qualquer coisa que precisasse ser perdoada fosse revelada à minha mente exterior.
Nessa época, eu já tinha passado pela terapia individual e tinha experiência em todos os tipos de processos de crescimento, tanto espirituais como psicológicos. Eu sabia que já tinha feito a minha lição de casa com os costumeiros “gurus”.
Eu não conseguia acreditar naquilo que veio à tona nas semanas seguinte ao meu pedido para limpar a casa. Um dia, eu estava lavando a louça e, aparentemente sem razão alguma, lembrei-me da minha professora da terceira série.
Eu imaginava que ela não gostava de mim e, de repente, surgiu novamente esse antigo sentimento, tão forte como quando eu estava com oito anos de idade.
Poucos dias depois, lembrei-me de um grupo de garotas da sexta série e de um incidente em que tive a certeza de que elas estavam fazendo fofocas a meu respeito. Essa sensação infeliz veio junto com a lembrança.
Isso continuou por semanas — incidentes fortuitos, completamente esquecidos que pareciam não ter nenhuma importância. Havia, porém, os pedacinhos não liberados do passado. Fiz com que, um a um, passassem por um processo de perdão.
Agora eu me mantenho em dia. Se tenho um momento difícil com o mecânico que cuida do meu carro, faço-o passar por um processo de perdão na mesma noite.
A Lei da Atração está sempre em vigor, e uma experiência que não foi perdoada é um jeito certo de atrair a mesma coisa outra vez.
Precisamos de uma grande quantidade de energia para nos mantermos agarrados a uma atitude que não foi perdoada. Abandonar as situações não é o bastante.
Oh, você pode escapar evitando-as, lançando sobre elas cortinas de fumaça e racionalizando-as por muito tempo. Mas a pessoa que não foi perdoada volta, muitas e muitas vezes, usando um nome ou uma personalidade diferente e exigindo que você lide com as questões não resolvidas.
Embora David esteja com quarenta anos de idade, ele não perdoa a ausência do pai durante a sua infância. Ele continua a atrair autoridades masculinas que não lhe oferecem apoio e a discutir com elas em todos os empregos que arranjou até hoje.
Sharon teve uma vida sexual saudável — até ser estuprada. Depois de freqüentar vários terapeutas e de ter muitas visões interiores, ela ainda se sente amargurada em relação à sua experiência de pesadelo e continua a abastecê-la com a sua raiva, encarando todos os homens como ameaças potenciais.
A guerra do Vietnã está tão viva hoje para Mark como no dia em que embarcou de volta para casa, sem um braço. Quando o memorial foi construído em Washington, ele riu com desprezo e disse: “Eu jamais vou me esquecer e jamais vou perdoar.” Foi assim que ele decretou a sua própria prisão.
As pessoas que são surpreendidas por circunstâncias destruidoras parecem ser vítimas, pura e simplesmente. E se estamos lendo apenas um capítulo do livro delas, não há o que discutir. Mas não conhecemos a história toda: não podemos julgar.
Não sabemos qual é o tanto de loucura coletiva que elas assumiram por todos nós. Só podemos ter compaixão e apoiá-las nas curvas difíceis dos seus caminhos e fazer aquilo que estiver ao nosso alcance para mudar o ambiente para todos nós.
Porém, apoiar não é o mesmo que salvar.
Uma mentalidade de salvação está emitindo um juízo quando diz: “Eu sei mais que a sua alma a respeito daquilo que você precisa.” O apoio oferece ajuda compassiva. Ele encoraja os que passam por determinadas circunstâncias a encará-las, a controlar seus sentimentos e a ter paciência com o processo de cura até que o perdão seja possível.
Tudo o que não foi perdoado fica retido no corpo, nas emoções, na mente e até mesmo na alma. Por não ser liberado, isso se cristaliza, formando obstruções nos próprios caminhos pelos quais a energia deve fluir. Havendo tempo suficiente para cristalizar-se vai acabar resultando em doença.
Eu conheço um homem dedicado à cura que é muito respeitado.
Ele começa seus tratamentos com a seguinte pergunta:
“A quem ou o que você não perdoou?”
Com o tempo, acabamos crescendo até chegar à compreensão do papel que a dor e a decepção representam na nossa vida. Mas a nossa capacidade de quebrar as correntes através do perdão não se limita apenas a esta existência.
No domínio da consciência, tudo está presente. Se o medo que vem de outra vida está sendo ferrenhamente mantido na consciência, é o mesmo que se tivesse ocorrido hoje de manhã. No tempo real, ocorreu mesmo.
Não é preciso que a pessoa se lembre dos incidentes ou de pessoas específicas que acionam esse medo. As especificidades simplesmente foram consteladas em torno de um ímã central. Eliminando o ímã — o medo — não há nada para sustentar as lembranças, e elas se dispersam como as sombras da noite diante do sol nascente.
Pode ser difícil ver um propósito com a mente racional, especialmente nos acontecimentos que compartilhamos como parte do drama humano maior, assim como a guerra e a fome.
O Ego percebe as coisas dentro de uma perspectiva limitada e cria categorias: essa atitude pode ser perdoada; aquela, não. Os graus de culpa são colocados numa escala muito imprecisa — pecado número um, não tão ruim; pecado número dez, imperdoável. É claro que a escala se altera. O pecado de ontem pode muito bem ser tolerado hoje.
Sam é um homem de seus trinta e cinco anos e veio pedir aconselhamento porque estava bloqueando conscientemente o próprio sucesso. Pai de vários filhos, era uma pessoa muito trabalhadora que verdadeiramente aspirava viver, de acordo com suas próprias palavras, “uma vida que valesse a pena”.
Quando me sintonizei com ele, comecei a desconfiar que, ou ele tinha tido uma experiência homossexual ou realmente queria ter uma, e essa questão tinha de ser abordada em primeiro lugar.
Quando mencionei isso, ele admitiu com muita relutância que tinha passado por esse tipo de experiência e começou a chorar. Ele sentia que havia pecado e que não merecia ser feliz.
À medida que eu ia rezando para receber orientação a fim de ajudá-lo, comecei a ver, cena por cena, horrores de devastação — guerras, torturas, campos de concentração, doenças, fome. Porém, em todos os lugares que eu pude ver em Espírito, havia amor oferecido em grandes ondas de Luz dourada — amor movendo-se através da guerra, através das doenças, através de tudo aquilo.
Então eu vi, cena por cena, a vida exprimindo a sua alegria — vida nova nascendo, amigos rindo, campos verdes no verão. Em todos os lugares em que vi a beleza, havia a mesma Luz dourada do amor. Então eu vi Sam, ali, de pé com seu amante, e havia a mesma Luz dourada do amor. A mensagem era clara: não há nenhum lugar em que não exista amor.
O perdão não é distribuído como condecorações em recompensa pela obediência a uma interpretação humana do código moral de Deus. Em primeiro lugar, ele nunca foi retido. Peça ao Universo para perdoá-lo, e a resposta provavelmente será o silêncio — você receberá a mesma Luz dourada do amor que sempre o circundou.
Mas, uma vez que seja capaz de perdoar a si mesmo, então vai reconhecer essa Luz e finalmente aceitá-la.
Todos nós sentimos culpa e vergonha por opções que fizemos. Muito disso vem por termos interiorizado as vozes primitivas de outras pessoas. Quando estamos fora dos padrões (uma definição boa e simples para pecado), a voz calma e tranqüilizadora da nossa orientação nos conduz — não nos julga, apenas conduz.
A vergonha pode ser adotada como um espelho para percebermos o que precisa ser purificado, e isso geralmente significa o que precisa ser perdoado.
Um antigo poeta egípcio disse muito bem, num poema intitulado Nuk Pe Nuk [Eu sou o que sou]: “E o próprio Inferno é apenas uma barragem que eu coloquei no meu córrego durante um pesadelo.”
O primeiro passo para o perdão é conhecer exatamente aquilo ou aquele que precisa do perdão. Isso pode parecer óbvio, mas às vezes é muito sutil.
Por exemplo, você pode ter lidado com a sua mágoa, mas não com a sua raiva porque seu pai ou sua mãe o abandonou na infância. O subconsciente pode estar conservando intactos esses sentimentos de abandono, junto com a energia da raiva.
O perdão pode ser concedido com a mesma facilidade, tanto para alguém que morreu como para alguém que está vivo. Ou talvez você teve um “bom” pai ou uma “boa” mãe, e a criança que há dentro de você ainda se ressente por causa dele ou dela por não tê-lo protegido do pai ou da mãe “ruim”.
O próximo passo do perdão é examinar as implicações da mágoa original — explore a experiência com todo o valor que ela contém. Como foi que ela afetou a sua vida, as suas atitudes, os seus relacionamentos, a sua auto-imagem?
Se você achar que esse nó é difícil de desatar, ame a si mesmo o bastante para procurar um conselheiro ou terapeuta profissional para ajudá-lo. O que quer que faça, não seja muito severo consigo mesmo se ainda está remoendo acontecimentos sem importância.
A gentileza para consigo mesmo faz parte da concessão do perdão.
Finalmente, deve ser tomada a decisão de partir para a liberação.
A conscientização é um primeiro passo, mas não é o perdão.
Conheci muitas pessoas capazes de enumerar claramente as muitas razões pelas quais odiavam isto ou aquilo, mas ainda estavam odiando. A raiva e a mágoa emergem durante a parte analítica do processo e certamente têm de ser dominadas.
O próximo passo é dissipar completamente, com o perdão, toda a energia que há em torno da dor.
As 7 Etapas de Uma Transformação Consciente, p. 240
Postado no Blog O Meu Melhor Modo de Ser
Abraços de Luz
Regina
SENTIR, CRER E SER
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