Quando queremos que alguma coisa fique ancorada à nossa
vida, fazemos de tudo para mantê-la presa à nós. Criamos laços e os apertamos
com todo nosso coração.
Os nós fazem parte de nós.
Infelizmente, nem tudo o que se apega a nós é bom e útil. Se
prezamos ter laços afetivos e pedaços de memórias agarradas definitivamente à
nossa pele, há aqueles nós que se apegam sem que nossa permissão seja pedida e
sem que tenhamos forças para desatá-los. Esses nos acompanham e nos
adoecem.
Viver com nós na garganta, que não descem e nem saem, nos
deixa deficientes. Avançamos em algumas outras coisas, mas o não resolvido fica,
como um espinho na carne.
Aquilo que não conseguimos engolir é o perdão que não
conseguimos oferecer, é o esclarecimento que nunca nos foi dado, são os porquês
nunca respondidos.
A gente caminha, mas sente que algo ficou pra trás e muitas
das dores de garganta que não conseguimos curar são emoções presas das quais não
soubemos nos livrar. O que fica atravessado diante de nós é o peso que
carregamos por vezes por anos e anos.
O dia bendito em que conseguimos colocar em palavras e
lágrimas aquilo que nos ofendeu, entrou em nós e ficou, o sol desponta no
horizonte como se fosse seu primeiro dia.
Ah, Deus, se tivéssemos sempre a coragem de abrir nosso
coração e gritar nossa mágoa, quão mais leves e sãos poderíamos viver!
Por que esse medo de expôr o que nos desagrada? Por que
temer ferir o outro quando estamos, nós mesmos e inteiramente, sangrando? Por
que a felicidade alheia, se felicidade alheia há, é mais importante que a nossa?
Grande parte dos nossos problemas, das nossas doenças até
físicas, são falta de comunicação. Por que não dizemos, não passamos ao outro o
que sentimos, não falamos do sentimento de injustiça que sentimos e do quanto
isso nos abala.
Falar é importante. No bom momento, claro, que com sabedoria
deve ser escolhido, mas é muito importante. O que não dizemos, o outro não é
obrigado a adivinhar e isso nunca podemos cobrar.
Os nós não resolvidos atam nossa vida a um certo momento.
Não crescemos como convém e mesmo nosso riso é sempre manchado por uma pinta de
tristeza que traduz nosso olhar.
Quando sentiu que tinha que se revoltar no Templo, Jesus se
revoltou, nenhuma palavra poupou; quando a dor e tristeza foram grandes demais
no seu seio, Ele chorou; quando o cálice tornou-se por demais amargo, falou com
o Pai...
A liberdade só nos chega quando liberamos nosso ser, quando
oferecemos ao outro o direito de ouvir, perdoamos o que deve ser perdoado e
aceitamos o que deve ser aceitado.
Se criamos a coragem de desatar, devagar, certo, mas
desatar, um a um os laços que nos incomodam, liberamos uma a uma as ansiedades,
os males que nos doem física e psicologicamente.
Nessas horas nosso coração bate de maneira diferente,
respiramos mais ar puro e nossos olhos se abrem para novos horizontes. Só um
pequeno passo, um muito de coragem e uma nova vida pode começar.
Letícia Thompson
Paz e Luz
Regina
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